Marcílio Gazzinelli

Marcilio Gazzinelli

Aos 14 anos, recebi de presente de minha mãe uma Kodak Rio 400. Lente plástica, sem recursos técnicos, mas significou uma semente para toda a minha produção técnica e artística desde a década de 1970 até os dias de hoje. Começou a germinar nos cursos oferecidos pelo SENAC, onde fui definitivamente contaminado pela sabedoria de mestres-fotógrafos, como José Eduardo Ferolla, Maurício Andrés, Fernando Ziviani e Bernardo Magalhães (o “Nem de Tal”), que me ensinaram a ler e produzir fotografia. Pulei de uma Yashica emprestada para a minha primeira Nikon F2.

Comecei registrando eventos do cenário cultural de Belo Horizonte – shows musicais, espetáculos de dança e montagens teatrais – mas logo caí na estrada, abraçando a fotografia documental. Em julho de 1978 (com André Bila) e julho de 1979 (com Renato Caporali), descemos de canoa o Rio São Francisco, remando, conversando com a população ribeirinha e fotografando a paisagem do sertão. Passagem marcante deste roteiro foi a romaria de Bom Jesus da Lapa, que influenciou fortemente a minha forma de ver e sentir as manifestações de fé e religiosidade popular. Em dezembro de 79 subi para conhecer o grande Rio Amazonas, viajando pela Amazônia brasileira, peruana e colombiana. Após cinco meses, fui parar na cidade do México, e aí estiquei até San Francisco, onde conheci José Wellington Araújo, então concluindo o doutorado em cinema, que me convidou para ser o câmera em um documentário no Brasil.

De volta à Belo Horizonte, tentei retomar o curso de Geologia na UFMG, mas alguns contratos de fotografia aérea e documentação de grandes obras de engenharia pesada me proporcionaram a chance de conhecer todo o Brasil e boa parte da América do Sul, além de retornar à América Central e percorrer parte da África. Nestes muitos anos de “trecho”, os deslocamentos aéreos (normalmente feitos com a porta do helicóptero aberta, olhar atento e boa vontade dos comandantes) me deram de presente o registro de um grande acervo de campos de futebol de várzea pelo país afora, resultando em importante exposição que circulou por sete cidades brasileiras.

Nestas últimas quatro décadas, tive a felicidade de dividir estúdios com outros três grandes fotógrafos mineiros – Antônio Maria, Tibério França e Miguel Aun. Este foi um convívio extremamente valioso não apenas pela troca de conhecimentos sobre técnicas fotográficas, mas também pelo caráter e ética desses bons companheiros, com quem tive a honra de compartilhar minhas experiências.